Recomeço

Bom dia a todos!

Através desse post venho anunciar o retorno do Boteco do Cinema após uma grande pausa! Em breve atualizarei o blogue com alguns textos meus sobre filmes que aprecio e que por vezes revisito. Também haverá espaço para os lançamentos que me atraírem a atenção, assim como clássicos que merecem sempre novas discussões. Enfim, o Boteco é espaço para o cinema em toda a sua amplitude e qualquer pitaco é bem-vindo! Então pegue um banco, um chope e vamos ao que interessa!

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Filmes Recomendados

Por Daniel Senos

Tenho visto muitos filmes relacionados ao samba e à música brasileira, então as duas obras que recomendarei serão relacionadas ao assunto!

Saravah

Belíssimo documentário sobre a música brasileira, principalmente o samba e a bossa nova em 1969. Estrelando artistas como Paulinho da Viola, Maria Bethania, Baden Powell, João da Baiana e mestre Pixinguinha (únicas cenas coloridas que se tem desse grande mestre do choro), é bonito de ver o apaixonamento de Pierra Barouh, diretor do filme, pela nossa música brasileira à medida em que entrevista Baden Powell e Paulinho da Viola. Imperdível e obrigatório para todos os amantes da música brasileira.

O Mistério do Samba

Resultado de uma intensa pesquisa feita pela equipe que o produziu e realizou, ‘’O Mistério do Samba’’ aborda o cotidiano da Velha Guarda de uma das mais tradicionais Escolas de Samba do Rio de Janeiro, a Portela. Sambistas da antiga como Monarco, Casquinha, Jair do Cavaquinho, Argemiro do Patrocínio, Tia Surica e Eunice contam casos antigos, histórias muitas vezes engraçadas e sempre com um toque de saudosismo.

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“Reflexões de um Liquidificador”

Por Daniel Senos

‘’Reflexões de um Liquidificador’’ já é um título no mínimo curioso: o que um simples eletrodoméstico portador de lâminas com a serventia de triturar alimentos em geral teria para refletir? O utensílio nada mais é do que um personagem do filme e interage ativamente durante a história, tem um temperamento difícil e só funciona quando quer; ainda troca idéia com Elvira (Ana Lúcia Torre) e se mostra curioso em relação a diversas características do mundo real. Repleto de humor negro, divagações filosóficas e até um espaço para um resquício do gênero policial, ‘’Reflexões de um Liquidificador’’ é uma obra criativa e dinâmica, que surpreende em diversos fatores.

Após um conserto, o Liquidificador passa a ter consciência do que se passa a seu redor; entende e se fascina pela condição humana, passa a se questionar sobre questões existenciais suas e da sociedade até que trava o primeiro contato com a sua dona, Elvira e a partir daí torna-se companheiro e confidente da personagem.  A relação dos dois se tornará mais estreita depois de um certo incidente envolvendo Onofre (Germano Haiut), o marido de Ana Lucia Torre na história.

Logo nas primeiras cenas já nos deparamos com o Liquidificador (dublado por Selton Mello e sua voz inconfundível) e é fácil perceber a importância que o objeto possui na narrativa: encontra-se bem no topo da geladeira, no canto superior direito da tela, enquanto dialoga com Elvira, ‘’olhando’’ de cima para baixo para sua proprietária. O personagem da Ana Lúcia Torre dialoga com o Liquidificador abertamente chega até a questionar-se se estaria louca ou se seria efeito de uma possível caduquice.

O curioso é que, propositalmente, não fica claro em momento algum se é  um delírio de Elvira ou uma característica fantasiosa da história o fato do liquidificador começar a entender as pessoas. Um argumento sólido para justificar uma construção delirante (algo da ordem de um distúrbio no conteúdo do pensamento de Elvira) seria que o Liquidificador não se expressa com mais ninguém a não ser com ela. Porém tal argumento esbarra em outros a favor de uma realidade fantasiosa, como o fato de o liquidificador relatar experiências próprias, suas indagações filosóficas sobre a vida ou mesmo a sua especulação de como se tornou consciente, o que o faz dotado de uma singularidade. Enfim, embora acredite que seja uma produção fantasiosa da história, provavelmente esse não é um dos focos do filme.

O cenário, a cidade de São Paulo, é visto de uma outra perspectiva, o lado das pessoas trabalhadoras, que suam a camisa para conseguir sobreviver cada dia que passa. O filme nos mostra uma parcela da cidade mais sofrida, que não goza do mesmo luxo dos altos prédios. Vemos a casa de Ana Lúcia Torre, com tons neutros e mesmo cores esmaecidas, o que pode nos despertar certa impressão de cansaço.  A cozinha mesmo é toda de ladrilhos brancos e azuis e traz mais uma vez cores sem vida junto com a geladeira e de outros utensílios.

André Klotzel, diretor do filme, conduz de forma bastante dinâmica o roteiro de José Antônio de Souza. Muitas vezes investe em uma câmera que percorre o ambiente, bem contemplativa, geralmente em situações em que acontecem as divagações do Liquidificador. Cenas como as do objeto dublado por Selton Mello divagando sobre as perguntas dos humanos (de onde viemos e para onde vamos) com a câmera focada nos pés dos pedestres indo e vindo são muito bem conduzidas. O roteiro é bastante coeso, construído em cima das divagações filosóficas do Liquidificador e as suas confabulações com Elvira. A narrativa se constrói e dá pistas para os espectadores sobre o paradeiro do marido de Elvira, Onofre (Germano Haiut) à medida em que se desenvolve.

Realmente é uma pena que esse filme tenha passado tão despercebido por aqui, pois trata-se de uma obra divertida e criativa. Vale bastante a pena conferir e rir um pouco com as tramóias de Ana Lúcia Torre e seu eletrodoméstico. O tom de crueza permeado de um certo humor lembra um pouco filmes como ‘’Estômago’’ e ‘’O Cheiro do Ralo’’. Não deixem de conferir!

Nota: 8

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A Experiência

Por Matheus Saboia

Em 1971, o psicólogo social Philip Zimbardo comandou uma experiência que mais tarde ficaria conhecida como Experiência da Prisão de Stanford. Tratou-se, em resumo, de uma simulação do cotidiano prisional, onde 23 estudantes universitários foram divididos aleatoriamente em guardas e presidiários. A ideia do pesquisador era analisar os efeitos psicológicos sobre os indivíduos inseridos em tal ambiente de clausura.

Originalmente programado para durar duas semanas, o projeto teve que ser interrompido no 6º dia, pois passou a representar uma séria ameaça aos participantes. Embora proibidos de agir com castigos físicos, os guardas não tiveram problemas em aplicar punições psicológicas como forma de manutenção de sua autoridade. Barbaridades foram cometidas em nome da disciplina e o mais impressionante não é perceber como os detentos tiveram sua integridade físico-emocional destruída; não, fundamental é constatar que os vigilantes, aplicadores de métodos sádicos e humilhantes, não passavam de estudantes universitários, sem qualquer inclinação para a violência, de acordo com testes preliminares.

Inspirado nessa ideia, o cineasta Oliver Hirschbiegel formulou sua versão cinematográfica para os fatos. No filme, o protagonista – também baseado em um dos participantes – submete-se ao experimento com um propósito diferente dos demais: almejava, além do dinheiro prometido, vender sua história a um jornal depois que a simulação acabasse. Conhecido como Prisioneiro 77, a ficção traz o personagem como o símbolo maior de insubordinação entre os detentos, o que obviamente o tornará alvo principal dos carcereiros.

Enfatizo aqui o seu nome: Prisioneiro 77. Como ocorre em várias prisões, os cientistas responsáveis, no intuito de tornar a experiência mais real, adotaram medidas de despersonalização e desumanização do preso, tais como: raspagem do cabelo, utilização de números de identificação, adoção de uniforme etc. Medidas controversas, objeto de crítica para intelectuais dos mais diversos campos do conhecimento.

Mas vamos falar do filme. É certo que o diretor utilizou-se de alguns elementos ficcionais na narrativa – no filme, por exemplo, os desdobramentos da pesquisa atingem um patamar muito mais crítico (catastrófico, diria) – entretanto tais recursos se justificam, na medida em que potencializam os efeitos da história, sem que esta perca a identidade com o material original. Portanto, pode-se, sim, considerar a película bastante fiel aos fatos ocorridos na prisão de Stanford.

Se há uma falha a ser citada, esta se encontra no tratamento dado à amante do protagonista, que atua no núcleo fora da prisão. Além de não desenvolver razoavelmente a relação dos dois (o que é, de certa forma, justificável, pois o foco não se encontra aqui), o roteiro desperdiça tempo demais com a personagem, fazendo com que o espectador clame nessas horas para que as lentes do diretor se voltem para a experiência. Sendo assim, por mais que a personagem desempenhe um papel de importância no terceiro ato, suas cenas iniciais soam absolutamente descartáveis.

Recentemente, Philip Zimbardo (idealizador do experimento) concedeu uma entrevista, onde discorreu, dentre outras coisas, sobre os abusos cometidos em prisões no Iraque por soldados norte-americanos. Reproduzo abaixo um dos trechos que acredito ilustrar precisamente a ótica do psicólogo acerca dos eventos de 1971:

(…) o comportamento humano é mais influenciado pelas coisas fora de nós do que pelas que estão dentro de nós. A “situação” é o ambiente externo. O ambiente interno são os genes, a história moral, a religião. Há momentos em que as circunstâncias externas nos sobrecarregam, e fazemos coisas que jamais imaginaríamos fazer. Se você não sabe que isso pode acontecer, corre o risco de ser seduzido pelo mal. Precisamos nos vacinar contra o nosso próprio potencial para o mal. Temos de reconhecê-lo. Só assim podemos mudá-lo.

Como se pôde perceber, o filme de que falo não é daqueles esquecíveis. Seu grande feito é promover um diálogo entre o cinema e as ciências sociais, de modo que a película não adquira um papel coadjuvante – um mero veículo para ilustrar ideias acadêmicas. Quero dizer: subsistindo todas as qualidades de uma obra cinematográfica (afinal, o cinema é uma arte autônoma), o filme estabelece ainda uma importante interdisciplinaridade, material para boas reflexões.

Espero que a sétima arte não deixe nunca de produzir obras assim.

Nota: 8,5

A Experiência (Das Experiment, 2001)

Direção: Oliver Hirschbiegel

Roteiro: Mario Giordano, Christoph Darnstädt e Don Bohlinger (baseado em romance de Mario Giordano)

Elenco: Moritz Bleibtreu, Christian Berkel, Oliver Stokowski, Wotan Wilke Möhring, Edgar Selge, Andrea Sawatzki

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Filmes Recomendados

Por Daniel Senos

Inauguro com essa post, uma nova categoria de atualizações do blogue, ‘’Filmes Recomendados’’. O objetivo é compartilhar com os leitores do Boteco indicações de obras da sétima arte a serem assistidas, sem ter que fazer uma análise mais profunda, como nós viemos fazendo com os filmes que queremos recomendar. Um breve texto sobre uma ou duas recomendações, somente para despertar a curiosidade de quem ainda não viu, uma breve sinopse e um comentário pessoal (mais ou menos o que fazemos na descrição dos filmes da categoria ‘’Top’’). Vamos aos filmes!

Noel – Poeta da Vila

Como um ferrenho apreciador de samba, assisti a esse ‘’Noel – Poeta da Vila’’ de olhos vidrados, afinal trata-se de um dos maiores nomes da história da nossa música brasileira, o mestre Noel Rosa. O filme é mágico porque consegue nos transportar para o tempo de Noel, auge da malandragem e da popularização do samba, vemos os carnavais de rua, sambistas como Ismael Silva e Cartola, amigos de Noel Rosa, escrevendo suas letras nos bares. Obviamente, as músicas do sambista-tema do filme embalam quase toda a trilha sonora, junto com os sambas de seu rival Wilson Batista e de seus parceiros já citados. Como cinema mesmo nem é aquelas coisas, até porque certos pontos da vida de Noel não são desenvolvidos direito, como a polêmica com Wilson Batista, que deveria receber um tratamento mais digno, mas vale a pena conferir.

Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje

Paulinho da Viola é um dos ícones mais populares do samba. Simpático e com o seu jeito doce, a vontade ao assistir esse documentário é de sentar ao lado do sambista, abrir uma cerveja entoar suas músicas o dia inteiro. O filme consegue mostrar bastante bem quem é o músico Paulinho da Viola, com relato de seus filhos, mulher e de amigos da Velha Guarda da Portela além de Marisa Monte, Zeca Pagodinho, Elton Medeiros etc. As versões gravadas para o filme das músicas que compõem a trilha sonora são sensacionais, destaque para ‘’Carinhoso’’, do mestre Pixinguinha e João de Barro, dueto de Paulinho da Viola com Marisa Monte e ‘’Sinal Fechada’’, sempre belíssima. Imperdível!

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